segunda-feira, 29 de abril de 2013

Fórum das Águas no Terra Nova

 
O encontro do Fórum das Águas no bairro Terra Nova II (26 de Março de 2013) foi marcado por um significado especial. Ensejando aproximar-se das populações mais pobres para melhor conhecer e mais sentir as suas necessidades, o Fórum das Águas, a cada visita que faz, se descobre como espaço de interação, onde se constrói coletivamente o apredizado e onde a voz popular se externaliza, fazendo-se ouvir. A leitura da realidade ganha neste espaço nova interpretação sendo pautada, não pelos ditames dos manipulados meios de comunicação, mas pela vivência empírica dos problemas sentidos pela comunidade. Posturas diante da realidade são alteradas, visões de mundo são reelaboradas, levando as pessoas a reagirem ao individualismo, assumindo o engajamente coletivo como estratégia de resolução dos problemas.
 
A sociedade de consumo na qual vivemos determina nossos hábitos e repercute nas relações estabelecidas entre as pessoas, aproximando-as mais da categoria de consumidor (mediante a compra e consumo de produtos) do que do status de cidadão (mediante a conquista e garantia dos direitos). Esta experiência leva ao enfraquecimento das lutas coletivas (cada um procura satisfazer o seu gosto pessoal de consumo) e à consolidação de formas individualizadas na solução dos problemas cotidianos (compra da própria água de consumo, perfuração de poços tubulares, pagamento individual das contas). O elã político das questões é abafado, cedendo lugar às negociações bilaterais entre o comprador e o vendedor, entre o consumidor e o fornecedor. Tudo é resolvido sob a lógica do comércio (como se fossem questões privadas), longe das discussões públicas e políticas.
 
A perda do coletivo como horizonte de atuação favorece também à atual crise ecológica. Há fortes sinais de que a prática generalizada da perfuração de poços tubulares[1] influencia nas propriedades da água subterrânea[2], promovendo a poluição das reservas existentes e reduzindo a disponibilidade hídrica para as gerações posteriores. Destaca-se o desinteresse pela preservação das fontes aquíferas. O voltar-se exclusivamente para os seus interesses ou do seu grupo de pertença torna as pessoas/instituições menos sensíveis para com os problemas que afetem a humanidade no seu todo. A busca desenfreada do lucro promove o desequilíbrio entre as forças da natureza, prejudicando a fauna e a flora, intensificando as catástrofes naturais e colocando a vida em perigo (a vida humana e as de milhares de espécies).
 
No bairro Terra Nova II, o espaço de discussão/partilha promovido pelo Fórum das Águas acalentou o sonho de uma comunidade mais militante e atenta aos problemas coletivos. Nossas partilhas geraram lembranças de tempos de militância em que a comunidade Nossa Senhora das Graças se mobilizava para resolver seus problemas sociais, levando às autoridades políticas as demandas da população e pressionando os governos para o cumprimento de suas obrigações constitucionais. Houve quem convocasse a comunidade para o empenho político sugerindo candidatos eleitos pelo próprio bairro e alertando para o fato de que é necessário fazer com que a população se mexa, junte forças e se mobilize para a ação social.
 
O Fórum das Águas segue a sua itinerância junto aos bairros que padecem com a falta e a precariedade do abastecimento de água em Manaus, mas também busca orientar a sua ação, visando uma intenção mais universal em sintonia com os esforços ecológicos, que implica interesses mais amplos e articulações mais ousadas.
 
Sandoval Alves Rocha, 27 de Março de 2013.


[1] Mais de 20 mil poços artesianos estão em funcionamento em Manaus (Acrítica, 28 de Maio de 2012).
 
[2] Estudo do CPRM (Serviço Geológico do Brasil) analisa a capacidade do aquífero de Manaus, usado de forma desenfreada por indústrias e residências (Acrítica, 04 de Abril de 2013).

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