O
encontro do Fórum das Águas no bairro Terra Nova II (26 de Março de 2013) foi
marcado por um significado especial. Ensejando aproximar-se das populações mais
pobres para melhor conhecer e mais sentir as suas necessidades, o Fórum das
Águas, a cada visita que faz, se descobre como espaço de interação, onde se
constrói coletivamente o apredizado e onde a voz popular se externaliza,
fazendo-se ouvir. A leitura da realidade ganha neste espaço nova interpretação
sendo pautada, não pelos ditames dos manipulados meios de comunicação, mas pela
vivência empírica dos problemas sentidos pela comunidade. Posturas diante da
realidade são alteradas, visões de mundo são reelaboradas, levando as pessoas a
reagirem ao individualismo, assumindo o engajamente coletivo como estratégia de
resolução dos problemas.
A sociedade de consumo na qual vivemos
determina nossos hábitos e repercute nas relações estabelecidas entre as
pessoas, aproximando-as mais da categoria de consumidor (mediante a compra e
consumo de produtos) do que do status
de cidadão (mediante a conquista e garantia dos direitos). Esta experiência
leva ao enfraquecimento das lutas coletivas (cada um procura satisfazer o seu
gosto pessoal de consumo) e à consolidação de formas individualizadas na
solução dos problemas cotidianos (compra da própria água de consumo, perfuração
de poços tubulares, pagamento individual das contas). O elã político das
questões é abafado, cedendo lugar às negociações bilaterais entre o comprador e
o vendedor, entre o consumidor e o fornecedor. Tudo é resolvido sob a lógica do
comércio (como se fossem questões privadas), longe das discussões públicas e
políticas.
A perda do coletivo como
horizonte de atuação favorece também à atual crise ecológica. Há fortes sinais de
que a prática generalizada da perfuração de poços tubulares[1] influencia nas
propriedades da água subterrânea[2], promovendo a poluição das
reservas existentes e reduzindo a disponibilidade hídrica para as gerações
posteriores. Destaca-se o desinteresse pela preservação das fontes aquíferas. O
voltar-se exclusivamente para os seus interesses ou do seu grupo de pertença
torna as pessoas/instituições menos sensíveis para com os problemas que afetem
a humanidade no seu todo. A busca desenfreada do lucro promove o
desequilíbrio entre as forças da natureza, prejudicando a fauna e a flora,
intensificando as catástrofes naturais e colocando a vida em perigo (a vida
humana e as de milhares de espécies).
No bairro Terra Nova II, o espaço
de discussão/partilha promovido pelo Fórum das Águas acalentou o sonho de uma
comunidade mais militante e atenta aos problemas coletivos. Nossas partilhas
geraram lembranças de tempos de militância em que a comunidade Nossa Senhora
das Graças se mobilizava para resolver seus problemas sociais, levando às
autoridades políticas as demandas da população e pressionando os governos para
o cumprimento de suas obrigações constitucionais. Houve quem convocasse a
comunidade para o empenho político sugerindo candidatos eleitos pelo próprio
bairro e alertando para o fato de que é necessário fazer com que a população se
mexa, junte forças e se mobilize para a ação social.
O Fórum das Águas segue a sua
itinerância junto aos bairros que padecem com a falta e a precariedade do
abastecimento de água em Manaus, mas também busca orientar a sua ação, visando
uma intenção mais universal em sintonia com os esforços ecológicos, que implica
interesses mais amplos e articulações mais ousadas.
Sandoval Alves Rocha, 27 de Março
de 2013.
[1] Mais de 20 mil poços artesianos estão em
funcionamento em Manaus (Acrítica, 28 de Maio de 2012).
[2] Estudo do CPRM (Serviço
Geológico do Brasil) analisa a capacidade do aquífero de Manaus, usado de forma
desenfreada por indústrias e residências (Acrítica, 04 de Abril de 2013).
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