A CPI da Água foi
instalada na CMM (Câmara Municipal de Manaus) visando investigar os problemas
no abastecimento de água da capital amazonense num momento em que os olhos do
mundo contemplam, estarrecidos, a redução da disponibilidade de água potável no
planeta. Esta coincidência de fatos nos faz reavaliar uma pretensa noção de que
o Brasil, e mais especificamente a região amazônica, não está ameaçado pelo
problema de abastecimento de água e que a preocupação em relação aos recursos
hídricos não nos diz respeito. De fato, o Brasil possui 12% da água doce do
mundo, estando a maior parte dela represada na Amazônia. No entanto, isso não
quer dizer que somos o país mais rico nesse recurso natural, pois a riqueza em
água é estipulada pelo cálculo da disponibilidade hídrica por habitante, o que
leva a Islândia ocupar o primeiro lugar nessa classificação.
Este cenário nos impõe
uma reflexão sobre a eficiência com que a água potável é disponibilizada e
distribuída na Amazônia e no Brasil, sendo este país privilegiado no que diz
respeito à concentração de água.
Buscando destacar essa contradição, podemos recorrer à situação de seca
que o sertão brasileiro costuma vivenciar. Mas, podemos frisar também os agudos
problemas de abastecimento na cidade de Manaus, brindada pelas águas caudalosas
dos rios Solimões e Negro. De um lado temos muita água, de outro lado, destaca-se
a carência de água. Diante dessa contradição, não resta dúvida de que atrás da
ineficiência na disponibilização e distribuição desse mencionado recurso
natural subjaz uma opção econômica e política.
Assim como há uma
“indústria da seca” no sertão brasileiro, não é de se admirar a existência de
uma “indústria da cheia” na Amazônia, visando maximizar o lucro das empresas (no
caso, Águas da Amazônia) às custas dos consumidores. Lógica considerada normal
num país cuja inserção no mundo capitalista é realizada de maneira subordinada,
expondo os seus patrícios às mais variadas formas de exploração, não
deixando de causar grandes danos à natureza. Quanto à questão política, a CPI
da Água nos explicitará os arranjos e estratégias traçadas para a consolidação
de atores cujos nomes aparecerão nos próximos dias nos principais jornais e
noticiários amazonenses.
Sandoval A. Rocha, em
22/03/2012.
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