O
governo brasileiro vetou a investigação de uma missão da ONU que avaliaria a
situação do acesso à água e saneamento no País. O veto foi anunciado na
quinta-feira à ONU e nenhuma explicação razoável foi dada. Na ONU, porém, o
Estado apurou que a informação é de que o governo não quer que, nesse momento
de manifestação e demandas da população, se escancare mais um sério problema
social do País. A ordem de vetar a viagem veio do próprio gabinete da
presidente Dilma Rousseff.
“O
governo apenas explicou que, por motivos imprevistos, a missão não poderia mais
ocorrer”, declarou ao Estado a relatora da ONU para o Direito à Água e
Saneamento, a portuguesa Catarina de Albuquerque. Ao saber do cancelamento de
sua viagem, a relatora não disfarçava sua frustração.
Sua
missão começaria no dia 9 de julho e passaria por Brasília, São Paulo, favelas
do Rio de Janeiro e a zona rural do Ceará. Os dados da ONU são claros em
demonstrar que, apesar do crescimento da economia nas últimas décadas, a
situação do acesso ao saneamento é dramática.
“Entre
1990 e 2013, a situação daqueles que tem acesso ao saneamento melhorou em
apenas 1%”, declarou Catarina. Segundo ela, 7,2 milhões de brasileiros ainda
usam banheiros a céu aberto todos os dias. “Isso representa 4% da população. É
um número muito grande e quase o tamanho de Portugal”, declarou.
Oficialmente, Catarina insiste que não entende o motivo do cancelamento da avaliação. Mas, nos bastidores, pessoas ligadas à organização da viagem indicaram que o motivo seria o temor do governo de que a declaração da ONU e sua constatação inflamassem ainda mais certos protestos. Catarina deveria, por exemplo, dar uma coletiva de imprensa no Brasil para apresentar os dados dramáticos do País.
O acesso ao saneamento básico deve ser um dos pontos das metas do Milênio da ONU que o Brasil não conseguirá atingir até 2015. As Metas, estabelecidas em 2000, previam uma redução substancial do número de pessoas sem acesso a banheiros em 15 anos.
A viagem tinha sido fixada em abril e, desde então, a ONU fechou visitas com ongs a locais onde a situação é dramática. No Rio de Janeiro, ela visitaria favelas, justamente onde se questiona o estado por estar construindo teleféricos, e não obras de saneamento básico.
Oficialmente,
a explicação do governo era de que o Ministério das Cidades não teria como
receber a relatora, já que estaria concentrado em elaborar um novo plano de
mobilidade pública no País. A ONU se colocou â disposição para mudar a agenda,
mantendo a viagem. Mas essa opção foi rejeitada. Segundo Catarina, dos 12 dias
que ela ficaria no País, o encontro com autoridades ocuparia apenas um dia.
Além
de cancelar a viagem, o que surpreendeu a ONU é que, até agora, o governo
brasileiro não indicou se aceitará uma nova viagem no segundo semestre do ano.
O Brasil tem um compromisso internacional de receber todos os relatores da ONU
que desejam visitar o País.
Fonte: blogs.estadao.com.br
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